Das coisas que não lembro
Das coisas que eu não lembro: a emoção de ter meus filhos nos braços logo após o parto. Só flashes tênues, o corredor até a sala do parto de João, Ana com um pequeno machucado no nariz quando a segurei pela primeira vez, a dor antes da anestesia, a cortina verde do quarto e um e a amarela do quarto do outro, o mesmo armário, as noites em claro, o choro da Ana, o bom de amamentar, o ir e vir da cadeira de balanço. Não sei porque não lembro, mas gostaria dessa memória de elefante infalível. Queria recordar, sem castigo ou punição, dos momentos em que deixei passar oportunidades de amá-los. Não o amor latente que, tanto na emoção como na razão, sempre quis, com erros e acertos, o bem para eles. Mas o amor daquele instante, aquele que detecta, como um radar do Pentágono, os sinais onde é importante interferir, talvez só escutar, quem sabe o afago, ou respeitar o silêncio, ou invadir o quarto, romper a porta e ouvir o grito de socorro. Acho que deixei passar. Há por aqui um desej...